Este conto foi originalmente publicado no Jornal das Famílias, em janeiro de 1868, assinado por Victor de Paula. O texto desta edição eletrônica foi cotejado com o da publicação original.
Capítulo primeiro
Era um dia de procissão de Corpus Christi, que a igreja do Sacramento preparara com certo luxo.
A rua do Sacramento, a do Hospício, o largo do Rossio estavam mais ou menos cheios de povo que aguardava o préstito religioso.
Na janela de uma casa do Rossio, atulhada de gente como todas as janelas daquela rua, havia três moças, duas das quais pareciam irmãs, não só pela semelhança das feições, mas ainda pela identidade dos vestidos.
A diferença é que uma era morena, e possuía belíssimos cabelos negros, ao passo que a outra tinha a tez clara e os cabelos castanhos.
Essa era a diferença que se podia enxergar cá debaixo, porque se as examinássemos de perto veríamos no rosto de cada uma delas os traços distintivos que separavam aquelas duas almas.
Para sabermos os seus nomes não é preciso subir à casa; basta aproximarmo-nos de dous rapazes que da esquina da rua do Conde olham para a casa, que ficava do lado da rua do Espírito Santo.
– Vês? – diz um deles ao outro levantando um pouco a bengala na direção da casa.
– Vejo; são as Azevedos. Quem é a outra?
– É uma prima delas.
– Não é feia.
– Mas é uma cabeça de vento. Queres ir lá?
– Não; vou passear.
– Passear, Meneses! Não sou tão tolo que o acredite.
– Por quê?
– Porque eu sei onde vais.
Meneses sorriu, e olhou para o interlocutor perguntando:
– É uma novidade que eu tinha vontade de saber.
– Vais para casa da tua Vênus.
– Não conheço!
– Nem eu; mas é natural…
– Ah! É natural! Adeus, Marques.
– Adeus, Meneses.
E os dous rapazes separaram-se; Marques dirigiu-se para a casa onde estavam as três moças, e Meneses seguiu caminho pelo lado da Petalógica.
Se Marques olhasse para trás, veria que Meneses, apenas chegou à esquina da rua dos Ciganos, parou de novo e lançou um último olhar para a janela em questão; no fim de alguns segundos seguiu viagem.
Marques subiu pela escada acima. As raparigas, que o tinham visto entrar, foram recebê-lo alegremente.
– Não era o Dr. Meneses quem estava com o senhor? – perguntou uma das Azevedos.
– Era – respondeu Marques -; convidei-o a subir, mas ele não quis… Talvez fizesse mal – continuou Marques -, a casa não é minha, não acha, D. Margarida?
Dona Margarida era uma senhora que estava assentada na sala; era a dona da casa, tia das Azevedos, e mãe da terceira moça, que, com estas, estava à janela.
– Ora, ande lá – disse D. Margarida -, faça agora cerimônias comigo. Bem sabe que esta casa é sua e dos seus amigos. A procissão já saiu?
– Para lhe falar a verdade, não sei; eu venho do lado do Campo.
– Passou lá por casa? – perguntou uma das Azevedos, a morena.
– Passei, D. Luisinha; estava fechada.
– É natural; papai anda passeando e nós estamos aqui.
Marques sentou-se; Luisinha foi para o piano, com a prima, e começou a tocar não sei que variações sobre motivos da Martha.
Quanto à irmã de Luisinha, essa foi encostar-se à janela, em posição tal que os seus dous belos olhos castanhos observavam quanto se passava na sala; o corpo estava meio voltado para a rua, mas a cabeça estava meio voltada para dentro.
Quando digo que ela observava quanto se passava na sala, uso de uma expressão mal cabida, porque os olhos da moça fitavam-se nos de Marques, que achava meio de atender à conversa de D. Margarida e às olhadelas da jovem Hortênsia.
Era nem mais nem menos um namoro.
Hortênsia merecia bem que um rapaz se apaixonasse por ela. Não era alta, mas era esbelta, e sobretudo vestia com elegância suprema. Tinha duas cousas admiráveis: os olhos, que eram rasgados e profundos, e as mãos, que pareciam ter sido cortadas a alguma obra-prima da estatuária.
Comparado com ela, e atendendo-se apenas ao exterior, Marques era uma bela escolha para o coração de Hortênsia. Era bonito, mas a sua beleza não era nem efeminada, nem máscula; apenas um meio-termo; tinha cousas de uma e cousas de outra: uma fronte de deus Marte e um olhar de Ganimedes.
Era um amor já esboçado que havia entre aquelas duas criaturas. Marques, se compreendesse Hortênsia, como aquele olhar estava pedindo, seria um homem feliz. Compreendia?
II
Imaginamos que a leitora já está curiosa por saber o que queriam dizer os repetidos olhares de Meneses atravessando a praça da Constituição, olhares que não estão de acordo com a recusa de não ir ver as moças.
Para satisfazer a curiosidade da leitora, convidamo-la a entrar conosco em casa de Pascoal Azevedo, pai de Luísa e Hortênsia, dous dias depois da cena que narramos no capítulo anterior.
Pascoal Azevedo era chefe de seção em uma secretaria de Estado, e com esse ordenado e mais os juros de algumas apólices sustentava a família, que se compunha de uma irmã velha e das duas filhas.
Era um homem folgazão, amigo da convivência, mas modesto no trato e na linguagem. Não dava banquetes nem bailes; mas gostava que a sala e a sua mesa, despretensiosas ambas, estivessem sempre ornadas de alguns amigos.
Entre as pessoas que lá iam notava-se Meneses e Marques.
Marques logo no fim de dous meses conseguiu fazer-se objeto de um amor grande e sincero. Hortênsia queria doudamente ao rapaz. Pede a fidelidade histórica que se mencione uma circunstância, e vem a ser que Marques já era amado antes que amasse.
Uma noite reparou ele que era objeto da preferência de Hortênsia, e desta circunstância, que lhe lisonjeou o amor-próprio, começou-lhe o amor.
Marques era, então, e continuou a ser, amigo de Meneses, com quem não tinha segredos, um pouco por confiança, um pouco por estouvamento.
Uma noite, pois, ao saírem de casa de Azevedo, Marques disparou estas palavras à cara de Meneses:
– Sabes de uma cousa?
– O que é?
– Estou apaixonado pela Hortênsia.
– Ah!
– É verdade.
– E ela?
– Igualmente; morre por mim. Sabes que eu conheço as mulheres, e não me engano. Que dizes?
– Que hei de dizer? Digo que fazes bem.
– Tenho até ideias sérias; quero casar-me.
– Já!
– Pois então! Eu sou homem de resoluções rápidas; nada de esfriar. Somente, não quero dar um passo destes sem que um amigo, como tu, o aprove.
– Oh! Eu – disse Meneses.
– Aprovas, não?
– Decerto.
Nisto ficou a conversa entre os dous amigos.
Marques foi para casa na firme intenção de envergar a casaca no outro dia, e ir pedir a moça em casamento.
Mas como no intervalo meteu-se o sono, Marques acordou com a ideia de adiar o pedido até alguns dias depois.
– Por que motivo precipitarei um ato destes? Reflitamos.
E entre esse dia e o dia em que o vimos entrar na casa do Rossio, havia o espaço de um mês.
Dous dias depois, amiga leitora, encontramos os dous amigos em casa de Azevedo.
Meneses é de um natural taciturno. Enquanto todos conversam animadamente, ele apenas solta de quando em quando um monossílabo, ou responde com um sorriso a qualquer dito chistoso. A prima das Azevedos chamava-o tolo; Luisinha apenas lhe supunha desmedido orgulho; Hortênsia, mais inteligente que as duas e menos estouvada, dizia que ele era um espírito severo.
Esquecia-nos dizer que Meneses tivera algum tempo o sestro de escrever versos para os jornais, o que lhe arredou a estima de alguns homens sérios.
Na noite em questão, acontecia uma vez achar-se Meneses com Hortênsia à janela, enquanto Marques conversava, com o velho Azevedo, sobre não sei que assunto do dia.
Meneses já estava à janela, com as costas para a rua, quando Hortênsia chegou-se a ele.
– Não tem medo do sereno? – disse-lhe ela.
– Não tenho – disse Meneses.
– Olhe; sempre o conheci taciturno; mas agora reparo que é mais do que costumava a ser. Algum motivo há. Há quem suponha que a mana Luisinha…
Este simples gracejo de Hortênsia, feito sem a menor intenção oculta, fez com que Meneses franzisse levemente as sobrancelhas. Houve entre os dous um momento de silêncio.
– Será? – perguntou Hortênsia.
– Não é – respondeu Meneses -. Mas quem é que supõe isso?
– Quem? Imagine que sou eu…
– Mas por que supôs?…
– Por nada… supus. Bem sabe que entre moças, quando um rapaz está calado e triste, é que está apaixonado.
– Sou exceção da regra, e não sou eu só.
– Por quê?
– Porque eu conheço outros que estão apaixonados e andam alegres.
Desta vez foi Hortênsia quem franziu as sobrancelhas.
– É que para isto de amores, D. Hortênsia – continuou Meneses -, não há regra estabelecida. Depende dos temperamentos, do grau de paixão, e mais que tudo da aceitação ou da recusa de um amor.
– Então, confessa quê?… – disse Hortênsia vivamente.
– Eu não confesso nada – respondeu Meneses.
Serviu-se neste momento o chá.
Quando Hortênsia, saindo da janela, atravessava a sala, olhou maquinalmente para um espelho que ficava em frente a Meneses, e viu o longo, o profundo, o doloroso olhar que este prendera nela, vendo-a afastar-se.
Insensivelmente olhou para trás.
Meneses mal teve tempo de voltar para o lado da rua.
Mas a verdade estava descoberta.
Hortênsia tinha convicção de duas cousas:
Primeiramente, que Meneses amava.
Depois, que o objeto do amor do rapaz era ela.
Hortênsia tinha um coração excelente. Apenas conheceu que era amada por Meneses, arrependeu-se das palavras que dissera, aparentemente palavras de remoque.
Quis reparar o mal redobrando de atenções com o moço; mas de que valiam elas, quando Meneses surpreendia de quando em quando os belos olhos de Hortênsia pousarem um amoroso olhar em Marques, que andava e falava radiante e ruidoso, como um homem que não tem uma só cousa que exprobrar à fortuna?
III
Uma noite Marques anunciou em casa de Azevedo que Meneses estava doente, e por isso não ia lá.
O velho Azevedo e Hortênsia sentiram a doença do moço. Luisinha recebeu a notícia com indiferença.
Indagaram da doença; mas o próprio Marques não sabia o que era.
A doença era uma febre que cedeu no fim de quinze dias à ação da medicina. No fim de vinte dias Meneses apresentou-se em casa de Azevedo, ainda pálido e magro.
Hortênsia doeu-se de o ver assim. Compreendeu que aquele amor não correspondido entrava por muito na doença de Meneses. Sem que lhe coubesse culpa por isso, Hortênsia teve remorsos de lho ter inspirado.
Era o mesmo que se a flor tivesse culpa do perfume que exala, ou a estrela, do fulgor que despede de si.
Nessa mesma noite Marques disse a Hortênsia que ia pedi-la em casamento no dia seguinte.
– Autoriza-me? – perguntou ele.
– Com uma condição.
– Qual?
– É que o fará secretamente, e que nada divulgará até o dia do casamento, que deve ser daqui a alguns meses.
– Por que esta condição?
– Já me nega o direito de fazer uma condição?
Marques calou-se, sem compreender.
Era fácil entretanto entrar no pensamento íntimo de Hortênsia.
A moça não queria com a publicidade imediata do casamento amargurar fatalmente a existência de Meneses.
Contava ela que, pouco depois do pedido e do ajuste, alcançaria licença do pai para ir passar fora dous ou três meses.
“É quanto basta”, pensava ela, “para que o outro me esqueça e não sofra.”
Esta delicadeza de sentimento, que revelava em Hortênsia uma rara elevação de espírito e uma alma perfeita, se Marques pudesse compreendê-la e adivinhá-la, talvez condenasse a moça.
Entretanto, Hortênsia obrava de boa-fé. Queria ser feliz, mas teria remorsos se, para sê-lo, houvesse de fazer padecer alguém.
Marques, conforme a promessa, foi no dia seguinte à casa de Azevedo, e na forma tradicional pediu a mão de Hortênsia.
O pai da moça não tinha objeção alguma; e apenas pro formula impôs a condição da aquiescência da filha, que não tardou em dá-la.
Resolveu-se que o casamento seria dali a seis meses; e logo daí a dous dias Hortênsia pediu ao pai para ir visitar o tio, que residia em Valença.
Azevedo consentiu.
Marques, apenas recebeu a resposta afirmativa de Azevedo em relação ao casamento, repetiu a declaração de que até o dia aprazado o casamento seria um inviolável segredo.
“Mas”, pensou ele consigo, “para Meneses eu não tenho segredos, e este devo dizer-lho, sob pena de mostrar-me mau amigo.”
O moço estava ansioso por comunicar a alguém a sua felicidade. Foi dali para a casa em que Meneses advogava.
– Grande notícia – disse ele ao entrar.
– Que é?
– Vou casar-me.
– Com a Hortênsia?
– Com a Hortênsia.
Meneses empalideceu, e sentiu que o coração batia-lhe com força. Ele esperava por aquilo mesmo; mas ouvir a declaração do fato, naturalmente próximo; adquirir a certeza de que a amada de seu coração já era de outro, não só pelo amor, como pelos laços de uma próxima e assentada aliança, era uma tortura a que ele não podia fugir nem dissimular.
A sua comoção foi tão visível, que Marques perguntou-lhe:
– Que tens?
– Nada; restos daquela moléstia. Ando muito doente. Não é nada. Então, vais casar-te? Dou-te os meus parabéns.
– Obrigado, meu amigo.
– Quando é o casamento?
– Daqui a seis meses.
– Tão tarde!
– É vontade dela. Seja como for, é cousa assentada. Ora, não sei que sinto com isto; é uma impressão nova. Custa-me a crer que eu vá casar deveras…
– Por quê?
– Eu sei lá! Também, se não fosse ela, não casava. É bonita a minha noiva, não?
– É.
– E ama-me!… Queres ver a última carta dela?
Meneses dispensava bem a leitura da carta; mas como?
Marques tirou a carta do bolso e começou a lê-la; Meneses fazia esforços para não prestar atenção ao que ouvia.
Mas era debalde.
Ouvia tudo; e cada uma daquelas palavras, cada um daqueles protestos era uma punhalada que o pobre moço recebia no coração.
Quando Marques saiu, Meneses retirou-se para casa, aturdido como se o houvessem deitado ao fundo de um grande abismo, ou como se acabasse de ouvir a sua sentença de morte.
Amava perdidamente a uma mulher que o não amava, que amava a outro, e que ia casar. O fato é comum; os que o tiverem conhecido por experiência própria avaliarão a dor do pobre moço.
IV
Daí a dias efetuou-se a viagem de Hortênsia, que foi com a irmã e a tia para Valença. Marques não dissimulou a contrariedade que sentia com semelhante viagem, cuja razão não compreendia. Mas Hortênsia facilmente o convenceu de que era necessária aquela viagem, e despediu-se dele com lágrimas.
A leitora deste romance já terá reparado que Hortênsia exercia sobre Marques uma influência que tinha causa na superioridade do seu espírito. Amava-o, como devem amar as rainhas, dominando.
Marques sentiu muito a partida de Hortênsia, e o disse a Meneses.
O noivo amava a noiva; mas cumpre dizer que a intensidade do seu afeto não era a mesma que a noiva sentia por ele.
Marques gostava de Hortênsia: é a verdadeira expressão.
Casava-se porque gostava dela, e porque era uma mulher formosa, requestada por muitos, elegante, e finalmente porque a ideia do casamento fazia-lhe o efeito de um mistério novo para ele, que já andava ao corrente de todos os mistérios mais ou menos novos.
Agora por que brinco do destino uma mulher superior apaixonou-se por um rapaz tão frívolo?
A pergunta é ingênua e ociosa.
Nada mais comum do que estas alianças entre dous corações antípodas; nada mais raro do que uma união perfeitamente acertada.
Separando-se de Marques, a filha de Azevedo não se esquecia dele um só instante. Apenas chegou a Valença, escreveu-lhe uma carta, repassada de saudades, cheia de protestos.
Marques respondeu com outra epístola igualmente ardente, e cheia de protestos análogos.
Ambos almejavam pelo dia feliz do casamento.
Ficou entendido que a correspondência seria regular e frequente.
O noivo de Hortênsia não deixava de comunicar ao amigo todas as cartas da noiva, e bem assim as respostas que lhe mandava, e que eram sujeitas à correção literária de Meneses.
O pobre advogado estava em uma posição dolorosa; mas não podia escapar-lhe sem abrir o seu coração.
Era o que ele não queria; tinha a altivez do infortúnio.
V
Um dia Meneses levantou-se da cama com a resolução firme de esquecer Hortênsia.
“Por que motivo”, dizia ele consigo, “hei de alimentar um amor até aqui impossível, agora criminoso? Não tarda muito que os veja casados, e tudo estará acabado para mim. Preciso viver; tenho necessidade do futuro. Há um grande meio; é o trabalho e o estudo.”
Desse dia em diante Meneses redobrou de esforços; dividiu-se entre o trabalho e o estudo; lia até alta noite, e procurava formar-se completamente na difícil ciência que abraçara.
Procurava conscienciosamente esquecer a noiva do amigo.
Uma noite encontrou Marques no teatro, porque devemos dizer que, a fim de não ser confidente dos amores felizes de Hortênsia e Marques, o jovem advogado evitava o mais que podia achar-se com ele.
Marques, apenas o viu, deu-lhe a notícia de que Hortênsia lhe mandara lembranças na última carta.
– É uma carta de queixas, meu caro Meneses; tenho pena de a ter deixado em casa. Como eu me demorei em mandar-lhe a última carta minha, Hortênsia diz-me que eu a esqueço. Vê lá! Mas eu já mandei dizer-lhe que não; que a amo como sempre. Cousas de namorados que não te interessam a ti. Que tens feito?
– Trabalho agora muito – disse Meneses.
– Metido nos autos! Que maçada!
– Não; gosto daquilo.
– Ah! Gostas… Há quem goste do amarelo.
– Os autos são maçantes, mas a ciência é bela.
– É um aforismo que eu dispenso. Melhor processo é aquilo.
E Marques apontou para um camarote da segunda ordem.
Meneses olhou e viu uma mulher vestida de preto, sozinha, olhando para o lado em que os dous rapazes se achavam.
– Que achas? – disse Marques.
– É bonita. Quem é?
– É uma mulher…
– Respeito o mistério.
– Não me interrompas: é uma mulher adorável e incomparável…
– Se Hortênsia te ouvisse – disse Meneses sorrindo.
– Oh! Ela é mulher à parte, é a minha esposa… Está fora de questão. Demais, isto são pecadilhos de pequena monta. Hortênsia há de acostumar-se a eles.
Meneses não respondeu; mas disse consigo: “Pobre Hortênsia!”
Marques propôs a Meneses apresentá-lo à dama em questão. Meneses recusou.
Acabado o espetáculo saíram os dous. À porta, Meneses despediu-se de Marques, mas este, depois de indagar por que lado ia ele, disse que o acompanhava. Adiante, num lugar pouco frequentado, estava um carro parado.
– É o meu carro; vou deixar-te em casa – disse Marques.
– Mas eu ainda vou tomar chá aí em qualquer hotel.
– Toma chá comigo.
E arrastou Meneses para o carro.
No fundo do carro estava a mulher do teatro.
Meneses já não podia recusar e entrou.
O carro seguiu para a casa da mulher, que Marques disse chamar-se Sofia.
Duas horas depois, Meneses seguia para casa, a pé, e meditando profundamente no futuro que ia ter a noiva de Marques.
Este não ocultara a Sofia o projeto do casamento, porque a rapariga, estando à mesa do chá, disse a Meneses:
– Que me diz, doutor, ao casamento deste senhorzinho?
– Digo que é um belo casamento.
– Que tolice! Casar-se nesta idade!
Um mês depois desta cena estava Meneses no escritório, quando entrou o velho Azevedo com as feições um pouco alteradas.
– Que tem? – disse-lhe o advogado.
– Onde está o Marques?
– Não o vejo há oito dias.
– Nem o verá mais – disse Azevedo fulo de cólera.
– Por quê?
– Veja isto.
E mostrou-lhe o Jornal do Commercio desse dia, onde vinha, entre os passageiros para o rio da Prata, o nome do noivo de Hortênsia.
– Partiu para o rio da Prata… Não leu isto?
– Leio agora, porque não tenho tempo de ler tudo. Que iria lá fazer?
– Foi acompanhar esta passageira.
E Azevedo apontou para o nome de Sofia.
– Seria isso? – balbuciou Meneses, procurando desculpar o amigo.
– Foi. Eu sabia há dias que havia alguma cousa; recebi duas cartas anônimas que me diziam estar o meu futuro genro de amores com aquela mulher. Entristeceu-me o fato. A cousa era tão verdadeira que ele escasseou as suas visitas à minha casa, e a pobre Hortênsia, em duas cartas que me escreveu ultimamente, dizia ter pressentimentos de que não seria feliz. Coitadinha! Se ela soubesse! Há de sabê-lo; é impossível que não saiba! E ela ama-o.
O advogado procurou acalmar o pai de Hortênsia, censurou o procedimento de Marques, e incumbiu-se de escrever-lhe para ver se o trazia de novo ao caminho do dever.
Mas Azevedo recusou; disse-lhe que era já impossível; e que, se nas vésperas do enlace Marques procedia assim, o que não faria quando fosse casado?
– É melhor que Hortênsia sofra de uma vez do que a vida inteira – disse ele.
Azevedo, nesse mesmo dia, escreveu à irmã que viesse para a Corte.
Não foi difícil convencer a Hortênsia. Ela própria, assustada com o escassear da correspondência de Marques, estava decidida a isso.
Daí a cinco dias estavam todas em casa.
VI
Azevedo procurou contar a Hortênsia o ato do noivo, de modo que a impressão não fosse grande.
Mas a precaução era inútil.
Quando uma criatura ama, como Hortênsia amava, todos os meios de poupar-lhe as comoções são nulos.
O golpe foi profundo.
Azevedo ficou desesperado; se encontrasse Marques nessa ocasião, matava-o.
Aquela família, que até então era feliz, e que estava às portas de uma grande felicidade, viu-se repentinamente atirada em profunda agonia, graças ao estouvamento de um homem.
Meneses não foi à casa de Azevedo apenas chegou Hortênsia, por dous motivos: o primeiro era deixar a infeliz moça chorar em liberdade a ingratidão do noivo; depois, era não reavivar a chama do seu próprio amor com o espetáculo daquela dor que exprimia para ele o mais eloquente dos desenganos. Ver a mulher amada chorar por outro não é a maior dor deste mundo?
VII
Quinze dias depois da volta de Hortênsia, o jovem advogado encontrou Azevedo, e perguntou-lhe notícias da família.
– Todos estão bons. Hortênsia, compreende que está triste, com a notícia daquele fato. Pobre menina! Mas há de consolar-se. Apareça, doutor. Está mal conosco?
– Mal, por quê?
– Então não nos abandone; apareça. Vai lá hoje?
– Talvez.
– Vá; lá o esperamos.
Meneses não queria ir; mas a retirada absoluta era impossível. Mais tarde ou mais cedo era obrigado àquela visita; foi.
Hortênsia estava divinamente pálida.
Meneses, contemplando aquela figura do martírio, sentiu que mais do que nunca a amava. Aquela dor causava-lhe ciúmes. Doía-lhe que aqueles olhos vertessem lágrimas por outro, e por outro que as não merecia.
“Há ali”, pensava ele consigo, “há ali um grande coração, que torna um homem feliz só em palpitar por ele.”
Meneses retirou-se às onze horas da noite para casa. Sentia que o mesmo fogo de outrora ainda lhe ardia dentro do peito. Estava um pouco coberto, mas não extinto; a presença da moça reavivou a chama.
– Mas que posso esperar? – dizia Meneses entrando em casa -. Ela sofre, é que o ama; aqueles amores não se esquecem facilmente. Sejamos forte.
O protesto era sincero; mas a execução era difícil.
Meneses continuou a frequentar a casa de Azevedo.
Pouco a pouco, Hortênsia readquiria as antigas cores, e posto que não tivesse a mesma alegria de outro tempo, o olhar apresentava uma serenidade de bom agouro.
O pai tornava-se contente ao ver aquela transformação.
Entretanto, Meneses escrevera a Marques uma carta de exprobração; dizia-lhe que o seu procedimento não era somente cruel, mas até feio, e procurava chamá-lo à Corte.
A resposta de Marques foi a seguinte:
Meu Meneses,
Eu não sou herói de romance, nem tenho vontade disso.
Sou um homem de resoluções súbitas.
Cuidei que não amava a ninguém mais senão a essa bela Hortênsia; mas enganei-me; encontrei Sofia, a quem me entreguei em corpo e alma.
Isto não quer dizer que eu não abandone Sofia; estou mesmo a ver que me prendo nos laços de alguma destas argentinas, que são as andaluzas da América.
Variar é viver. São dous verbos que começam por v: profunda lição que nos dá a natureza e a gramática. Penso, logo existo, dizia creio que o Descartes.
E vario, logo existo, digo eu.
Não te importes, portanto, comigo.
O pior é que Sofia já me tem comido umas boas centenas de pesos. Que estômago, meu caro!
Até um dia.
Esta carta era eloquente.
Meneses não respondeu; guardou-a simplesmente, e lastimou que a pobre moça tivesse posto em tão indignas mãos o seu coração de vinte anos.
VIII
É inútil dizer que Meneses fizera em Hortênsia, depois da volta desta à casa, a mesma impressão que antes.
A moça compreendeu que era amada por ele, em silêncio, respeitosa, resignada, desesperançadamente…
Compreendeu mais.
Meneses ia poucas vezes à casa de Azevedo; não era como antes, que lá ia todas as noites.
A moça compreendeu a delicadeza de Meneses; viu que era amada, mas que, diante da sua dor, o rapaz procurava esconder o mais que pudesse a sua pessoa.
Hortênsia, que era capaz de delicadeza igual, apreciou aquela no seu justo valor.
Que havia de mais natural que uma aproximação de duas almas tão nobres, tão capazes de sacrifícios, tão feitas para se compreenderem?
Uma noite Hortênsia disse a Meneses que as suas visitas eram raras, que ele não ia lá como antes, o que entristecia a família.
Meneses desculpou-se; disse que os seus trabalhos eram muitos.
Mas as visitas tornaram-se menos raras.
O advogado chegou a conceber a esperança de que ainda podia ser feliz, e procurou abraçar o fantasma da sua imaginação.
“Contudo”, pensou ele, “é cedo demais para que ela o esqueça.”
Tê-lo-á esquecido?
Nem de propósito sucedeu que nessa mesma noite em que Meneses fazia esta reflexão, uma das pessoas que frequentavam a casa de Azevedo soltou imprudentemente o nome de Marques.
Hortênsia empalideceu; Meneses olhou para ela; viu-lhe os olhos úmidos.
– Ainda o ama – disse ele.
Nessa noite Meneses não dormiu. Vira desfeita, num instante, a esperança que chegara a manter no seu espírito. Era inútil a luta.
Não escapou à moça a impressão que causara em Meneses a sua tristeza ao ouvir falar em Marques; e, vendo que ele outra vez rareava as suas visitas, compreendeu que o moço estava disposto a sacrificar-se.
O que ela já sentia por ele era estima e simpatia; nada disso, nem isso tudo forma o amor. Mas Hortênsia tinha um coração delicado e uma inteligência esclarecida; compreendia Meneses; podia vir a amá-lo.
Com efeito, à proporção que os dias se passavam, sentia ela que um novo sentimento a impelia para Meneses. Os olhos começaram a falar, as ausências já lhe eram dolorosas; estava no caminho do amor.
Uma noite achavam-se os dous na sala, um pouco isolados dos mais, e com os olhos fixos um no outro, esqueciam-se de si.
Caiu o lenço da moça; ela ia apanhá-lo, Meneses apressou-se também; os dedos de ambos encontraram-se, e como se fossem duas pilhas elétricas, aquele contato fê-los estremecer.
Não disseram nada; mas tinham-se entendido.
Na seguinte noite Meneses declarou a Hortênsia que a amava, e perguntou-lhe se queria ser sua mulher.
A moça respondeu afirmativamente.
– Há muito tempo – disse ele – que eu a trago no meu coração; tenho-a amado em silêncio, como entendo que se devem adorar as santas…
– Sei – murmurou ela.
E acrescentou:
– O que eu lhe peço é que me faça feliz.
– Juro-lhe!
No dia seguinte Meneses pediu a mão de Hortênsia, e um mês depois eram casados, indo gozar a lua de mel em Petrópolis.
Dous meses depois do casamento desembarcava do rio da Prata o jovem Marques, sem a Sofia, que lá ficara depenando os outros Marques de lá.
IX
O velho Azevedo agradeceu ao céu o ter achado um genro como ele sonhara, um genro que fosse homem de bem, inteligente, esclarecido e amado por Hortênsia.
– Agora – dizia ele no dia do casamento – só me resta concluir o meu tempo de serviço público, pedir a minha aposentadoria, e ir passar com vocês o resto da minha vida. Digo que só espero isto, porque Luisinha, é natural que se case breve.
Marques, apenas chegou à Corte, lembrou-se de ir à casa de Azevedo; não o fez por achar-se fatigado.
Tendo rematado o romance da mulher que o levou ao rio da Prata, o jovem fluminense, em cujo espírito sucediam-se os projetos com espantosa facilidade, lembrou-se de que deixara em meio um casamento, e voltou-se logo para essas primeiras ideias.
Entretanto, como a antiga casa de Meneses era no centro da cidade, e ficava-lhe portanto mais perto, Marques resolveu ir lá.
Encontrou um moleque que lhe respondeu simplesmente:
– Nhonhô está em Petrópolis.
– Fazendo o quê?
– Não sei, não senhor.
Eram quatro horas da tarde. Marques foi jantar projetando ir à noite à casa de Azevedo.
No hotel encontrou um amigo que, depois de abraçá-lo, despejou um alforje de notícias.
Entre elas veio a do casamento de Meneses.
– Ah! Casou-se o Meneses? – disse Marques espantado -. Com quem?
– Com uma filha do Azevedo.
– A Luísa?
– A Hortênsia.
– A Hortênsia!
– É verdade; há dous meses. Estão em Petrópolis.
Marques enfiou.
Realmente ele não amava a filha de Azevedo; e o direito que poderia ter à mão dela, tinha-o destruído com a viagem misteriosa ao rio da Prata e a carta que dirigira a Meneses; tudo isto era assim; porém Marques era essencialmente vaidoso, e aquele casamento feito em sua ausência, quando ele pensava vir achar Hortênsia lavada em lágrimas e semiviúva, feriu-lhe profundamente o amor-próprio.
Por felicidade do estômago dele só a vaidade estava ofendida, de modo que a natureza animal readquiriu logo a sua supremacia à vista de uma sopa de ervilhas e de uma mayonnaise de peixe, fabricadas por mão de mestre.
Marques comeu como um homem que vem de bordo, onde não enjoou, e depois de comer tratou de ir fazer algumas visitas mais íntimas.
Deveria, porém, ir à casa de Azevedo? Como deveria falar ali? Que teria havido em sua ausência?
Estas e outras perguntas surgiam do espírito de Marques, que não sabia como decidir-se. Entretanto o moço refletiu que não lhe convinha mostrar-se sabedor de nada, a fim de adquirir o direito de censura, e que em todo caso era conveniente ir à casa de Azevedo.
Mas aí a resposta que teve foi:
– O senhor não recebe ninguém.
Marques voltou sem saber até que ponto aquela resposta era ou deixava de ser um insulto para ele.
“Em todo caso”, pensou, “o melhor é não voltar lá; além de quê, eu venho de fora, tenho o direito à visita.”
Mas os dias passaram-se sem que lhe aparecesse ninguém.
Marques magoava-se com isso; mas o que sobretudo lhe doía mais era ver que a mulher se lhe escapara das mãos, e tanto mais se enraivecia quanto que a cousa era toda por culpa dele.
“Mas que papel faz Meneses em tudo isto?” dizia ele consigo. “Sabendo do meu projetado casamento foi traição aceitá-la por esposa.”
De pergunta em pergunta, de consideração em consideração, Marques chegou a conceber um plano de vingança contra Meneses, e com satisfação igual à de um general que tem meditado um ataque enérgico e seguro, o jovem dandy esperou tranquilamente a volta do casal Meneses.
X
O casal voltou com efeito daí a alguns dias.
Hortênsia vinha bela como nunca; tinha na fronte o esplendor da esposa; a esposa tinha completado a donzela.
Meneses era um homem feliz. Amava e era amado. Estava no começo da vida, e ia fundar uma família. Sentia-se cheio de força e disposto a ser completamente feliz.
Poucos dias depois de chegarem à Corte, Marques apareceu repentinamente no escritório de Meneses.
O primeiro encontro compreende-se que devia ser um tanto estranho. Meneses, que estava na plena consciência dos seus atos, recebeu Marques com um sorriso. Este procurou afetar uma alegria desmedida.
– Cheguei, meu caro Meneses, há quinze dias; e tive ímpetos de ir a Petrópolis; mas não pude. É inútil dizer que ia a Petrópolis para dar-te os meus sinceros parabéns.
– Senta-te – disse Meneses.
– Estás casado – disse Marques sentando-se -, e casado com a minha noiva. Se eu fosse outro zangar-me-ia; mas, graças a Deus, tenho algum juízo. Acho que fizeste muito bem.
– Creio que sim – respondeu Meneses.
– Bem pesadas as cousas eu não amava a minha noiva como convinha que ela fosse amada. Não poderia fazê-la feliz, nem o seria eu próprio. Contigo é outra cousa.
– Então recebes assim alegremente…
– Pois então! Não há entre nós uma rivalidade; nenhuma competência nos separou. Foi apenas um episódio na minha vida que eu estimo ver que tivesse este desenlace. Em suma, tu vales mais do que eu; és mais digno dela…
– Fizeste boa viagem? – atalhou Meneses.
– Magnífica.
E Marques entrou na exposição minuciosa da viagem, até que um abençoado procurador de causas veio interrompê-lo.
Meneses apertou a mão ao amigo, oferecendo-lhe a casa.
– Lá irei, lá irei, mas peço que convenças a tua mulher de que não me há de receber acanhadamente. O que passou, passou; eu é que não valho nada.
– Adeus!
– Adeus!
XI
Não tardou muito que Marques fosse à casa de Meneses, onde Hortênsia lhe preparava uma recepção fria.
Contudo uma cousa era planear, outra era executar.
Depois de ter amado tão ardentemente o rapaz, a moça não podia deixar de sentir um primeiro abalo.
Sentiu, mas dominou-se.
Pela sua parte, o preterido moço, que realmente nada sentia, pôde representar tranquilamente o seu papel.
O que ele queria (por que não dizê-lo?) era reconquistar no coração da moça o terreno perdido.
Mas como?
Apenas chegado de fora do país, vendo a sua noiva casada com outro, Marques não recebe impressão alguma, e longe de fugir àquela mulher que lhe lembrava uma felicidade perdida, entra friamente por aquela casa que não é dele, e fala tranquilamente à noiva que já lhe não pertence.
Tais eram as reflexões de Hortênsia.
Entretanto, Marques persistia no seu plano, e empregava na execução dele uma habilidade que ninguém lhe supunha.
Um dia em que se achou só com Hortênsia, ou antes em que lá foi à casa dela na certeza que Meneses estava fora, Marques dirigiu a conversa para os tempos dos antigos amores.
Hortênsia não o acompanhou nesse terreno; mas ele insistiu, e como ela lhe declarasse que tudo aquilo estava morto, Marques prorrompeu nestas palavras:
– Morto! Para a senhora, é possível; mas não para mim; para mim que nunca a esqueci, e se por uma fatalidade, que eu ainda hoje não posso revelar, fui obrigado a partir para fora, nem por isso a esqueci. Cuidei que houvesse feito o mesmo, e desembarquei com a doce esperança de ser seu esposo. Por que motivo não esperou por mim?
Hortênsia não respondeu; não fez o menor gesto, não disse uma palavra.
Levantou-se daí a alguns segundos, e encaminhou-se altivamente para a porta do interior.
Marques ficou na sala até que apareceu um moleque dizendo-lhe que tinha ordem de fazê-lo retirar.
A humilhação era grande. Nunca houve mais triste Sadowa nas guerras de el-rei Cupido.
– Fui um asno! – disse Marques no outro dia quando a cena lhe voltou à lembrança -. Eu devia esperar dous anos.
Quanto a Hortênsia, logo depois da saída de Marques entrou no quarto, e verteu duas lágrimas, duas apenas, as últimas que lhe restavam para chorar aquele amor tão grande e tão mal posto.
As primeiras lágrimas foram-lhe arrancadas pela dor; estas duas exprimiam a vergonha.
Hortênsia já se envergonhava de ter amado aquele homem.
De todas as derrotas do amor, esta é decerto a pior. O ódio é cruel, mas a vergonha é aviltante.
Quando Meneses voltou para casa achou Hortênsia alegre e ansiosa por vê-lo; sem nada contar-lhe, Hortênsia disse-lhe que tinha necessidade de apertá-lo ao seio, e que mais uma vez agradecia a Deus a circunstância que os levou ao casamento.
Estas palavras, e a ausência de Marques durante oito dias, fez compreender ao feliz marido que alguma cousa houvera.
Mas nada perguntou.
Naquele casal aliava-se tudo o que é nobre: o amor e a confiança. É este o segredo dos casamentos felizes.